quinta-feira, 14 de julho de 2011

Crônica - A Idade mais Feliz

Por Véra Regina Friederichs*

O que fazem os velhinhos, os idosos, os da melhor idade, aposentados ou outras definições quisquer para pessoas que finalmente conseguem dedicar um tempo de suas vidas às próprias vidas? Que buscam o amor, apaixonando-se por si e aprendendo a peerdoar-se primeiro para depois esquecer das mágoas e ressentimetos por que passam todos os dias? O conhecimento, a Internet, a loucura em que a mídia transforma nossas vidas para nos manter atualizados vem a nosso favor? No último censo, o IBGE nos trouxe uma informação importantíssima:  os brasileiros estão envelhecendo. A medicina avança trazendo a longevidade e mais qualidade de vida.


Como estamos nos preparando para esta nova realidade? Que possibilidades e oportunidades são oferecidas a estas pessoas? O que os políticos estão fazendo para melhorar a nossa vida no presente e futuro? De uma as mais belas ilhas do litoral Norte de Santa Catarina, São Francisco do Sul, a realidade é um exemplo: dois Centros de Convivência para a Terceira Idade com várias oficinas sem qualquer custo. Entre as opções estão a dança, a música (canto), o pirógrafo, o crochê, o tricô, o fuxico, exercícios de memória, brincadeiras e outras. As reuniões semanais já curaram muitas doenças como a depressão, a insônia, o stress e a hipertensão, por exemplo.


As quatro turmas de uma das oficinas do bairro Sandra Regina deram show de dança dos anos 60, como se voltassem a ter 15 anos. Os idosos se emocionaram com as palavras do prefeito Luiz Zera em uma das apresentações. "Criado pelos meus avós, sou do tempo em que se respeitavam os idosos, em que a verdade prevalecia sobre a mentira, em que a honestidade tinha o seu valor, em que todos trabalhavam, estudavam e se respeitavam. Tenho saudade do tempo em que os filhos respeitavam os pais e professores. Hoje oriento os diretores, professores e a secretária de Educação para ensinarem as nossas crianças a respeitar os idosos, a aprender, a  ter paciência com eles, a ouvi-los e a lhes dar muito amor e carinho."


Caracterizados com roupas dos anos 60, deixamos muita garotada no chinelo. Bem-humorado, o prefeito disse que quer chegar na idade em que estamos assim como somos: "sem vergonha", no bom sentido, é claro e que nós não estamos na melhor idade, mas sim, na mais feliz.


A decoração, os trajes e a música voltaram no tempo. "As meninas" de saias godê pretas bem rodadas, com bolinhas coloridas, tiaras no cabelo com grandes laços, laços nos sapatos pretos e outros adereços. "Os gatos", de calças jeans e jaquetas de couro, sem contar com os cupidos de carne e osso flechando os mais desavisados. Lamento não ter sido o alvo de suas flechas.


O chefe do cerimonial me chamou de idosa quando pediu prá eu ler uma poesia sobre a dança, mas não gostei. Ainda não tinha 60 anos, mas pensei prá quem está de saia godê e já dançou Lacinhos Cor-de-Rosa para o prefeito, não importa. A idade mas apropriada seria 15 anos, quando vivemos os bons tempos da Jovem Guarda. Foi assim que me senti. E ainda me sinto, mesmo agora com 60 anos festejados na última terça-feira.


Dos 55 a 85 anos, conseguimos nos superar dançando: Lacinhos Cor-de-Rosa, Biquini de Bolinha Amarelinha, Estúpido Cupido e Splish Splash, com todas as nossas limitações, graças à paciência, dedicação, amor e carinho de três jovens professores: o Edison, a Maria e o Rony. Os nossos queridos mestres abalaram as estruturas quando dançaram Broto Legal.


Eles se desdobraram e nos fizeram dançar Anos 60 em oito ensaios. Depois nos prepararam para uma quadrilha junina e mais uma dança, nos transformando em caipiras muito engraçados. Após a primeira apresentação, os convites não param mais. Estamos divertindo e mostrando o nosso trabalho em várias festas da ilha. Esta alegria está se estendendo às festas de julho e agosto. A cada nova  apresentação a emoção e a adrenalina se misturam. O coração bate forte, as pernas tremem, a respiração fica ofegante, a boca seca e ficamos quase sem fôlego.  Mas enfrentamos o medo e encaramos novos palcos e públicos. No final, os aplausos e o sentimento de dever cumprido, a alegria de sermos capazes, úteis, a alegria de estarmos vivos e o prazer dos abraços e da confraternização com os novos amigos, a partir dos quais formamos uma nova família, preenchendo em muitos casos o tempo ocioso, o vazio, a solidão e a tristeza.


3 de julho, 23h 15m, noite de um domingo gelado e chuvoso


A autora (seg. da dir. p/ esq.) entre suas amigas 






























*jornalista



Para ler outros textos de Vera, acesse o blog dela: verajornalista.blogspot.com. Para a gente ler o seu também neste espaço, envie-o para o e-mail saredbueri@gmail.com. Pode ser crônica, artigo, conto, poesia etc.!

Nenhum comentário:

Postar um comentário