segunda-feira, 27 de junho de 2011

Artigo do leitor - "O descompasso entre a família e a escola"

Por Joelson dos Passos*

Há muito se sabe que a escola, depois da família, é a instituição social que mais influencia o desenvolvimento da criança, pois ambas, família e escola, como contextos de desenvolvimento partilham a mesma meta, que é educar, e assumem a função de cuidar e proteger crianças e jovens.

No entanto, as diferenças entre essas duas instituições são muitas, como por exemplo, a maneira como dividem o tempo (que é muito mais visível e estruturada na escola) e a relação que estabelecem entre adulto e criança: na escola tem forte caráter institucional, marcada pela burocracia e papéis muito bem demarcados pelo professor e aluno.

De modo geral a aprendizagem formal que acontece no estabelecimento escolar é mais verbal, fragmentada e descontextualizada, ao passo que em casa a aprendizagem é global e mais carregada de fatores emocionais e de maior significado prático imediato.

Os professores passam por treinamentos e cursos para se habilitar; já os pais aprendem a exercer sua função de forma muito menos sistemática, ou seja, praticando, conforme ouvi em palestra do professor Bellini Meurer da Univille.

Portanto, é preciso considerar uma característica importante da escola que é a sua capilaridade: “A escola pública, pela sua presença em todas as comunidades deste Brasil, é o lócus privilegiado de referência a famílias e comunidades quando projetam o desenvolvimento de seus filhos”.

Na internet, encontrei uma pesquisa interessante realizada pela Fundação Carlos Chagas, em São Paulo, na qual aponta que a população de baixa renda valoriza muito a escola, sobretudo para conseguir melhores empregos, melhores condições de vida e a prova dessa valorização é que a maioria dos entrevistados acompanhava a vida escolar dos filhos. Se por um lado, a escola ideal, para os pais, deveria ter bons professores, ser segura, limpa, disciplinada e com boa merenda, por outro lado, as principais deficiências apontadas foram os baixos salários dos professores, seu mau desempenho em sala de aula e sua participação em greves.

Já os professores entrevistados neste estudo “parecem ter uma atitude passiva ou omissa diante dos problemas que a escola enfrenta e como o resto da população espera muito do governo ou de técnicos especializados para a resolução dos seus problemas”.

Frente a essas duas atitudes, resultadas da pesquisa, “a leitura que faço é que a escola e a comunidade caminham por linhas paralelas”, o que certamente não favorece o cumprimento da missão principal da escola, que é promover a aprendizagem de todos os alunos.

Neste diapasão, devemos considerar que a escola é um espaço de socialização do conhecimento científico e o seu currículo deve atender as necessidades do seu tempo onde a temática: drogas, sexo e cidadania devem ser contempladas, pois, com certeza, a concepção de sociedade, de homem e de aprendizagem que a escola adota, definirá o cidadão que esta formará.

Urge, portanto, uma mudança de postura, adaptada aos novos tempos, para que a escola não fique defasada face às necessidades de aprendizagem dos alunos e que ao contrário das acusações dos dois lados, asseguremos a participação conjunta na busca de uma solução que contemple o desenvolvimento educacional dos alunos e a valorização dos professores.

* Pedagogo e especialista em Políticas Públicas

 
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3 comentários:

  1. Mesmo tendo sido escrito a cerca de 3 anos, este texto do Sr Joelson continua atualíssimo e mostra que neste tempo nada ou muito pouco foi feito, pelas partes interessadas, para alavancar a educação.
    Vê-se por toda a parte, salvo honrosas exceções, professores desmotivados, descompromissados com o ensino e com o aluno e famílias que apenas se preocupam em saber se a merenda estava “boa” e às vezes nem isso!
    Sábias e verdadeiro retrato da situação as palavras do articulista: “Já os professores entrevistados neste estudo “parecem ter uma atitude passiva ou omissa diante dos problemas que a escola enfrenta e como o resto da população espera muito do governo ou de técnicos especializados para a resolução dos seus problemas””
    Precisamos sim de educação (Família) e cultura (Escola). Todos somos responsáveis para que os brasileiros de amanhã não permaneçam no limbo cultural em que se encontram hoje.

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  2. Valeu Sared é bom saber que o seu Blog está de volta. Prof. Joelson concordo em muitos pontos com seu post, porém não podemos esquecer que a escola faz parte de um momento histórico daquela sociedade na qual ela se estabelece. O sistema educacional brasileiro está um caos, e não é por culpa dos professores ou por suas lutas salariais, mas principalmente pela má aplicação de recursos públicas, pela fragmentação da família moderna. E também não podemos esquecer que a escola é um instrumento de reprodução, isto é, reproduz o status quo, existente na sociedade, procurando dar um discernimento claro, uma separação, entre aqueles que mandam e aqueles que serão mandado.
    Saudações
    Chico Corrêa

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  3. Prezado Sared:

    Legal ver o texto do douto Joelson sendo publicados nesse espaço, serve de reflexão para o setor educacional e para a sociedade.
    Não apenas uma reflexão superficial, que simplifica o problema, acredito que a manifestação do Prof. Joelson serve para direcionar um trabalho de política pública voltada na preocupação com o ensino.

    Um abraço

    Antonio Neto

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